Historia sobre a região.
Características da área geográfica da serrania da Peneda, Gerês e Amarela, o sistema de habitat de “brandas” e “inverneiras” é um marco referencial da maior singularidade e interesse etnológico e patrimonial.
A branda é um espaço de uso mais sazonal, com uma ocupação secundária, conectada sobretudo com os usos agrícolas e pastoris de Verão, por oposição à inverneira tradicionalmente de cariz mais permanente. Ocupam geralmente cotas de terreno a cima dos 600 metros, substancialmente mais altas que as inverneiras a que se associam.
No concelho o número de brandas é significativo, com representações singulares em Bosgalinhas, S. Bento do Cando, Mosqueiros, entre outras. Nas áreas espaciais de Soajo e Sistelo as brandas recebem somente o gado e pastores, integrando por tal estruturas de abrigo bastantes desenvolvidas.
A aldeia do Soajo é também famosa pelo vasto conjunto de espigueiros erigidos sobre uma enorme laje granítica, usada pelo povo como eira comunitária. O mais antigo data de 1782. Estes monumentos de granito foram construídos na altura em que se incrementou o cultivo do milho e serviam para proteger o cereal das intempéries e dos animais roedores. As suas paredes são fendidas para que o ar circule através das espigas empilhadas. No topo são geralmente rematados por uma cruz, que significa a invocação divina para a proteção dos cereais. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
A aldeia do Soajo está implantada numa das vertentes da Serra da Peneda, sobranceira ao Rio Lima. A sua história já vem de longe. Consta que terá sido fundada no século 1, mas só no século XVI lhe foi atribuída carta de foral. Desde a fundação da nacionalidade portuguesa que o seu povo goza de privilégios.
Quando outras localidades de Portugal invocavam a liderança espanhola, o Soajo reconhecia o rei de Portugal como legítimo e isso valeu-lhe vários direitos.
Os habitantes da região eram designados por monteiros, em virtude da sua Principal actividade ser a caça. Ursos, javalis, cabras-bravas, lobos e raposas eram espécie, capturadas. Chegou mesmo a ser instituída a montaria do Soajo, havendo ali representantes locais clã Montaria Real.
Consta que no reinado de D. Dinis os monteiros se terão queixado dos abusos de fidalgos, pelo que o monarca terá dado ordem para que estes não se demorassem ali mais do que “o tempo de esfriar um pão na ponta de uma lança”. Há quem defenda que terá vindo daí a curiosa forma do pelourinho que se situa rio largo principal da aldeia. A coluna simboliza uma lança e a pedra um pão.
Em 1852, o Soajo viria a perder o direito a sede de concelho. Porém, não perdeu a sua peculiaridade. Ainda hoje as ruas são pavimentados com lajes de granito e as casas construíras com blocos de pedra. A vida em comunidade sempre foi um dado muito importante nesta aldeia. Até há cerca de um século atrás, o Soajo tinha um juiz eleito pelo povo. Atualmente, a feira que se realiza todos os primeiros domingos do mês ainda é motivo de convívio para as gentes da terra.
Enquadrada numa região de rara beleza, esta aldeia tem outras curiosidades nas suas imediações, como as Antas do Soajo, a Ponte Velha e o Miradouro do Côto Velho.
Parece ser ponto assente que a primeira fixação de populações nestes espaços fica cronologicamente situada na Idade Média, talvez acompanhando um povoamento das zonas baixas de vale, periodicamente ocupando área contíguas aos primeiros castelos, de cotas superiores, sobretudo no Verão.